segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Insonia









Altas horas da madrugada e continuo sem sono.

Deitado numa cama a escaldar, volto e revolto em posições que mais parecem resultar de uma queda abismal.
Trocam-se os membros, braços esticados, pernas encolhidas, pescoço virado...
Desvio os lençóis mas a temperatura continua a aumentar.

Oiço ao longe um zumbido de uma lâmpada apagada. o respirar das paredes à minha volta.
O tique-taque do relógio avariado que insiste em contar os segundos sem ditar as horas e esquecendo-se dos minutos.

tique-taque...

...tique-taque...

O ponteiro que bate cada vez mais alto impede-me de dormir.

Forço as pálpebras a fecharem e desvendam um caleidoscópio bicolor... as formas que deslizam em círculos preto e branco encandeiam os olhos já fechados.

a cada tique o calor aperta... A cada taque sinto a demência a invadir-me.

tique-taque...



Enterro a cabeça na almofada na tentativa inane de abafar as vozes de defuntos já enterrados que insistem em assombrar as noites silenciosas.



O meu próprio batimento cardíaco torna-se incomodativo num sonoro ritmo bem dentro do ouvido.

Sinto uma ligeira pressão no alto da cabeça que cresce em direcção à nuca... Passo a mão pelo rosto para afastar as impressões que se alojam na face.

Colam-se as pernas aos lençóis.

Fustigam-se nos meus ombros os murmúrios cáusticos das mentes indigentes que jurei não ouvir.


Agradeço ao maldito relógio, que não pára de contar os mesmos segundos repetidamente, no abafo dos sussurros.

tique-taque...tique taque...

Fecho-me no quarto de luz onde apenas passam os feixes de breu pelos estores estragados. As paredes brancas, sem sombras, apaziguam a alma.

Retiro-me mais uma vez para o caleidoscópio "dicromático".

Abstraio-me destes fantasmas que me rodeiam e concentro-me numa gargalhada sincera que hoje me fez sorrir.

Inspiro o cheiro que me invadiu a pele.

No sorriso, sinto a sombra do toque…

Adopto a posição fetal, agarro o sorriso e adormeço.

Finalmente


By Moon_T

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei quanto custa querer fugir de nós para as profundezas do nada...do sonho, do vazio de nós mesmos...
E sei também que é das tristezas da alma, choradas sem lágrimas visiveis que vivem estas noites de insonias...

Eu sei...eu sei...

Anônimo disse...

Quase que descreveste a minha noite passada... Quase jurava que terias deitado na mesma cama que eu.
Mais uma vez, gostei de te ler.
(mesmo lendo algo tão "pessoal")
Quando sentimos a leitura tem outra dimensão. =))


Já volto.

Um beijo.
(In)Sonia.

Anônimo disse...

Idem :-)

Also...

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