quarta-feira, 30 de julho de 2008

Bate a realidade






Bate a realidade como uma pedra…

A sinceridade atrai a repulsa,

A amizade a hipocrisia.

Perante a vontade de avançar

Insistem em querer recuar!





Inútil

A vontade de lutar,

Evoluir…

Evolução, revolução, regressão


...


Derrotado sem nunca sequer ter lutado

Numa guerra inexistente

Real apenas na mente indigente

Não vale a pena continuar aqui…

Não vale a pena insistir…

Não vale a pena...













Separou-se a confraria.

Mais uma vez a imagem não coincide com o que vi.

A mala ainda está feita,

Resta partir.













Espero que
pela ultima vez...





By Moon_T


domingo, 27 de julho de 2008

Crónicas de Pecados - Ira

AVISO:

Cronica algo violenta e ,como tal, não aconselhada a pessoas sensíveis














Ira?



Ira não é uma sombra do que passa pela cabeça neste preciso momento. Não se compara com a raiva, com o ódio que corre no corpo.

Sinto-me a aquecer, tão quente que quase expludo.


A única coisa que me passa pela cabeça é destruição, morte, tortura e tudo de pior que um humano possa fazer. Criar dor, escorrer sangue, o total desmembramento lento para uma morte sofrida depositado num ser que não merece sequer o ar que respira.


Varias imagens de homicídio, sangue a escorrer, gritos de dor e pedidos de clemência, risos infernais e o som dos ossos a partirem e da pele a rasgar.


Infligir dor apenas o suficiente para que se mantenha consciente do que se passa em redor. Quebrar-lhe todos os ossos um a um, arrancar as unhas a sangue frio, partir falange a falange, dedo a dedo, um braço a seguir ao outro. Depois as pernas, os pés e retorcer os joelhos a noventa graus, muito lentamente, só para que sinta todos os segundos de dor. As articulações a cederem, os ossos a perfurar o nervo e a romper pela pele até que fiquem à vista no exterior.


De seguida, com uma lâmina pouco afiada, traçar longos e profundos cortes nas costelas apenas para que a lamina raspe no osso.


E deixar saborear a dor…

Com um ferro em brasa parar as hemorragias, só para que continue a dor.


Arrancar o escalpe lentamente e deixar que o sangue escorra e inunde os olhos de vermelho, misturando-se com as lágrimas que escorrem do rosto. Misturar o sangue, as lágrimas e o ranho e, de mãos nuas, espalhar bem aquela mistura pela cara. Com tanta força quanto a suficiente para lhe partir o nariz e forçar os lábios contra os dentes só para que se rasguem. Arrancar lentamente todos os dentes e depois disso deslocar-lhe o maxilar deixando a língua pendurada.



Apoiado de quatro, de joelhos e cabeça no chão, pegar num cabo de vassoura e romper o anus até às entranhas e deixar escorrer o sangue espesso pelo escroto.



E quando estiver já com o corpo completamente fodido… aí sim, com um taco de madeira do mais robusto que houver, esmagar o crânio até que os miolos saltem e espirrem uma obra abstracta pelas paredes e janelas que rodeiem. E deixar o corpo apodrecer ao sol!







Isto Ira?

Que seja! Que seja eu pecador, mas como o “defunto” também não sou perfeito. Ele que morra!









(Dedicado com todo o carinho e respeito que o energúmeno que me suscita estas sensações merece)








By: Moon_T




quarta-feira, 23 de julho de 2008

O homem que queria parar o tempo





Trancou-se em casa, longe do mundo, intocável, imperturbável.

Pendurado na parede estava um relógio antigo de cucu que de hora a hora se abria a porta e saía aquela pequena ave a anunciar mais uma hora que passou.

Dirigiu-se ao relógio, abriu a portas, pegou no cucu e, sem piedade matou-o.

De martelo na mão inúmeras vezes esmagou aquela “criatura” contra a bancada. Nem o pêndulo se ouvia a balançar de um lado para outro, somente as marteladas na madeira com a raiva e desespero de quem levantava o martelo bem no ar e condensava toda a sua frustração naquela martelada assassina na cabeça do cucu. Matou-o, destruiu-o até não sobrar nada. Se o cucu não saísse a anunciar as horas queria dizer que as horas não passavam.


Fechou as janelas e correu os estores para o sol não nascer.

Conseguiu prender a noite dentro daquelas quatro paredes a que um dia teria chamado de “casa”, se os dias não mais nascessem o tempo não andava.


Como um louco, empurrou a clepsidra para o chão, contemplando o estrondoso barulho do vidro a partir e sorriu ao ver a água escorrer pelos tacos de madeira, a entrar nas fendas do chão até desaparecer. Ficaram apenas os vidros, cacos de um medidor de tempo que não media mais nada. A água já não escorria, já não media o tempo. Sem água, o tempo não corre.


Ao caminhar para a cómoda no centro da sala, pisava os vidros espalhados pelo chão. A cada passo destruía mais um pedaço de vidro que já não pode contar o tempo. De um caco fez centenas. O som do vidro a despedaçar era música para os seus ouvidos. Suspirava tremulamente por ver o seu objectivo tão perto.


Chegou à cómoda, pegou na ampulheta, segurou-a com toda a força. Contemplou a areia a cair, tão límpida e serena. Levantou o braço o mais que pôde e num só gesto arremessou-a contra a parede. Caiu primeiro a madeira que revestia o vidro, de seguida, ouviram-se os vidros que se partiram na violência com que chocaram contra a parede, a caírem no chão partindo-se ainda em mais pedaços daquele vidro frágil. Ficou uma nuvem, parecendo quase parada no ar, de areia. Parecia brilhar no escuro os grãos de areia fina no ar a cair suavemente e silenciosamente no chão. A areia não iria correr mais na ampulheta. O tempo tinha parado.


Com medo que o sol voltasse a nascer, permaneceu confinado aquelas paredes, no escuro, tempo sem conta, pois o tempo tinha parado. Para ele, tinha conseguido, finalmente parar o tempo.


Longe de tudo e todos, no escuro, esperou e esperou.


Mas o tempo não parou. O sol embora não brilhasse lá dentro, não deixava de nascer e de se pôr, em turnos com a lua. Os segundos corriam, os minutos passavam e as horas continuavam a ser anunciadas pelos outros cucos e sinos. Os dias vinham e iam, as semanas, os meses… os anos passaram.


No breu que o envolvia, rendido à inércia, que o tinha posto na posição em que o tempo não passava, interrogava-se onde estaria o sentido das cousas sem passar o tempo. Que objectivo ou função teria ele para ficar ali, inerte, só parado com o tempo. Os risos que não se ouviam, beijos que não eram dados pois o tempo não passava. Não havia tempo para viver num tempo parado.


Quando decidiu abrir as janelas, a luz prateada do luar invadiu a sala desvendando o cenário de destruição que se fazia notar na sala.

“O sol não nasceu”, pensou.

Abriu a porta e saiu a rua. Uma suave brisa fresca acariciou-lhe o rosto e fez abanar ligeiramente a barba que não era desfeita à quanto tempo tinha o tempo parado.


Caminhou pelas ruas desertas da cidade até que chegou ao lago.

Espreitou o reflexo na água e quando viu a sua imagem espelhada tomou consciência que, afinal, o tempo não tinha parado, ele é que tinha fugido, nada mais.


Não gritou, não riu, a única reacção que teve foi, simplesmente, uma lágrima que ao cair lhe desfez o reflexo.






By, Moon_T




segunda-feira, 21 de julho de 2008

Dissecação de um cinzeiro




Objecto singelo o cinzeiro. Concebido exclusivamente para a morte. Destruir cigarros e cigarrilhas, esses também utensílios de morte lenta.

É no cinzeiro que se amachuca o cigarro moribundo, que se sufoca a ponta incandescente, onde se extingue a sua luz avermelhada.

Quando limpo, um objecto decorativo simples ou complexo, exposto em lugares estratégicos com o intuito de embelezar a vista. Como? Como é que tal objecto de tortura como o cinzeiro pode alguma vez ser agradável à vista? Por muito limpo que esteja, nunca deixará de ser a campa da chama e do cigarro.

Quando sujo, cenário grotesco, sujo, imundo. Vala comum para cadáveres de nicotina. Anarquia de cinzas, defuntos queimados e maltratados, amarrotados e violentados cigarros que outrora brilhavam e proporcionaram momentos de prazer. Acalmaram a ressaca de nicotina e mataram o vício.

Recipiente que serve de repouso para quando os dedos se cansam de passear o cigarro. Nunca nega o apoio… descansam brasas sobre ele, libertando fumo em danças ascendentes rumo aos céus.

Irreconhecível valor que se lhe dá. Enquanto sobre ele a chama remói, corrói e destrói, permanece um cinzeiro, um simples cinzeiro.

Olhando bem para este jazigo de momentos de vício, reparo que até a um simples objecto banal do nosso dia-a-dia, devo ter em conta que a sua função não é simples ou fácil, ou agradável, porém, necessária. Deve-se respeito até ao objecto mais fútil porque existe… é.

(texto experimental sobre um assunto supérfluo e banal com intuito de, sem dizer nada , dizer alguma coisa)

By Moon_T







quinta-feira, 17 de julho de 2008

O Amolador de facas




Avisto do 5º andar a figura mítica que, como tantos sonhos, já quase não existem: o amolador de facas. Há muito que por cá não passava.
Sujeito de figura modesta, sempre com a bicicleta ao lado, nunca em cima dela a não ser para fazer rodar a pedra. Pelo menos nunca que eu tenha visto. Interrogo se será respeito ou consideração. Nem aos burros antigamente o faziam, puxavam carroças e ainda tinham de carregar com os donos.
Devagar, parecendo em procissão de dia de finados, caminha rua acima, com o seu tão característico pífaro, flauta de cinco tubos.

Em tempos, por pura coincidência, ou não, era eu criança, precisamente na altura que me estava a portar mal lá se ouvia o apito. Era o amolador de facas. “Ai ai! Vez? Estás-te a portar mal! Lá vem o “homem das facas” para te levar!”, dizia a minha avó na tentativa de me impor algum receio para que me comportasse. Nunca o tive (receio).Sempre olhei para aquela figura caricata e original como uma pessoa mística sim, mas nunca como temerosa.
Sempre soube que por detrás das rugas que lhe carregam o rosto, à sombra daquela boina velha, está um homem, humilde, de olhos carregados de sonhos.
Quando olhado de relance talvez pareça sombrio, caso não se dêem ao trabalho de olhar com olhos de ver, mas não passa de uma pessoa com sorriso simpático e palavras amigas mesmo com a voz rouca e cansada.
Solitário, só com a companheira bicicleta a caminhar a seu lado.
Sempre na bicicleta está também a caixinha onde guarda as ferramentas, alicates e afins. No cesto à frente ou atrás do assento, mas sempre lá. Instrumento artesanal mas de tanta importância para por o pão na mesa. Com uma pedra de esmeril que nada tem de vulgar pois era a melhor de todas, a que melhor amolava as tesouras e facas. Laminas que mesmo depois de cansadas, postas nas mãos mágicas do “Homem das facas” rejuvenesciam, parecendo novas, a cortar como nunca antes cortaram.
Quem não gostava de ter esse dom? Voltar a dar vida, nem que seja a facas e tesouras.
Até os guarda-chuvas ele conserta, pondo novos cabos ou mudando varetas.

Mais que a simples magia de devolver a graça aos utensílios, tinha também a magia do tempo. Mais certo que a ciência lógica da metereologia, a sua vinda era sinal de mudança do tempo. Pouco depois de se manifestar pelas ruas, atrás vinha a chuva e os vendavais, como que se o perseguissem ou seguissem ou talvez até um simples acordo com a Natureza das cousas, que humildemente sopram o pó das laminas afiadas deixado pelo chão.
De verão ou de inverno, por onde passa trás a chuva. Facto curioso mas real. Rara será a vez que ele aparece que não seja precedido de nuvens carregadas de chuva. Que quererá dizer?

E lá segue ele, com a bicicleta a acompanhá-lo como a própria sombra, tocando a sua flauta de cinco tubos sempre com aquela melodia característica que não é nem alegre nem triste, que o som percorre as ruas e entra nas casas das pessoas como o canto das sereias, hipnotizando quem os ouvisse. Ninguém lhe era indiferente. Quem não sabe quem é? Ou não se lembra da melodia?
Cada vez que se ouvem aquelas notas musicais a ecoarem pelo ar fora já se sabe:
vem aí o Amolador de facas.

By Moon_T


terça-feira, 15 de julho de 2008

Saudade


Cai a noite…

Espreito sobre o ombro as passadas marcadas no asfalto.

A borracha derretida forma negras sombras espalhadas pelo chão. Manchas de Rorschach impressas nos passos estampados no pavimento, que insistem em tentar entender. Enigmas desconhecidos indecifráveis à simples curiosidade oca de castas mentes vãs.

Desliza o asfalto… lençol de seda soprado pela brisa nocturna arqueando movimentos frugais de meiguice e lenidade. Descobrem-se os tesouros escondidos de risos boémios e gargalhadas levianas.

Espreita o arauto taciturno pela brecha da porta entreaberta, arrastado pelo brilho espartano de uma lua rubicunda, suspensa somente pelos longos cabelos de um deus que não existe. Empenha o pergaminho hospedeiro de mensagens mudas que outrora tiveram nexo. Letras embaralhadas numa casta folha de papel. O que era um testamento é agora a sopa de letras de um paciente terminal, passatempo de quem aguarda as horas da morte.

Ao luar…

Raios mordazes cobrem as ruas de um inusitado índigo que hipnotiza as mais inocentes almas. Caiem pingas de lágrimas ácidas choradas pela mãe quando viu seu filho, ainda imberbe, a partir para a guerra.

Uivos aterrorizantes fogem das entranhas do pai que fugiu de mão dada com o desprezo e o esquecimento, na esperança de um dia voltar para um novo e utópico começo. Miragem demente de um indigente que condena a história a repetir-se.

Pela noite dentro…

Memórias despidas ao luar, bailam em torno de fogueiras ao ritmo de paradigmas de sacrilégio. Prelúdio lascivo que ecoa pelas madrugadas oníricas que anunciam o fim de uma noite de sonhos e fantasias, sem principio nem fim.

Passam tempos e egos em exposição nas vitrinas nas ruas estreitas de calçadas gastas, escorregadias, armadilhas eruditas para saltos altos e solas corroídas. Ruelas íngremes que avistam os candeeiros pendurados nas esquinas virados a oeste.

Madrugada…

Cabisbaixos e de olhos fixos no solo, os mendigos fazem vénias respeitosas ao poente da miséria evitando assim o encadeamento de um céu dourado iluminado por um sol que já não brilha.

Lá em baixo, o manto pálido toca o mar. Suave toque o da areia que cobre os pés a cada passo e escorrega por entre os dedos como carícias. Afirmam-se as pegadas por momentos apenas para serem roubadas pelas ondas rítmicas da água salgada.


Do alto da falésia já nem o farol roda…

Flutua um bote , ao longe , sem âncora nem amarras . Notam-se a custo as letras gastas cravadas na lateral : “A gaveta do fundo”.

Mergulho de cabeça mar a dentro, a nadar contra a maré, furando as ondas quase em apneia. Descanso deitado na madeira frágil do bote. Envolto no teu pranto que me aconchega deixo-me ir à deriva, guiado apenas pelos ventos de paixão.



by Moon_T

domingo, 13 de julho de 2008

Que vês tu quando fechas os olhos?





Que vês tu quando fechas os olhos?

Verás o mesmo que eu? Que vejo o sol e a lua a abraçarem-se no infinito?

Que vês tu quando fechas os olhos de cansaço?

Verás o mesmo que eu? Que vejo o fim a aproximar-se? Que sinto o ritmo cardíaco nas têmporas, o fervilhar do sangue que me jorra a escaldar nas veias?

Que vês tu quando fechas os olhos ao deitar?

Verás o mesmo que eu? Que vejo o silêncio a apoderar-se de mim? Que oiço os sussurros da lua ao meu ouvido e as fofocas dos insectos?

Que vês tu quando fechas os olhos ao beber?

Fecharás tu os teus olhos ao beber como eu fecho os meus? Permito que o liquido que sorvo me escorra pela garganta e tacteie as paredes interiores do meu corpo, que se passeie e se acomode

em mim.

Que vês tu quando fechas os olhos ao chorar?

Permites que te deslize a lágrima sentida pelo rosto? Que encontre o seu caminho até aos lábios


para que se manifeste o salgado sabor da dor, a amargura da tristeza, o azedo da alma?


Que vês tu quando fechas os olhos em carícias?

Fechas os olhos em suspiros e devoras o momento, o toque? Retens o calor que te entranha os poros? Permites que os odores da carícia se dissolvam em ti?

Que vês tu quando fechas os olhos ao beijar?

Verás a silhueta quente que te atrai como me atrais tu a mim? Verás o abraço limpo no meio do nada que me flutua na mente? A panóplia de cores que me enche a aurea?
Sem conseguir descreve-lo , é o que vejo...







By Moon_T

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Grito vivo



Acordei

Morto…

Indefeso perante a inércia mental que me tomou.

Involuntariamente me sopraste a alma

Abriram-se os olhos.

Algures no peito algo se mexeu… bateu


Apagaram-se as nódoas


Sararam as feridas e o sangue voltou a ser vermelho.


Retomou-se o pulso.

As pálpebras que se abriram

Libertaram o ardor das têmporas e o fulgor das pupilas.


Voltei a sentir

Tinha-me esquecido o que era sentir.

O frio, o calor, a dor, o quente, o húmido…

Sentir, só sentir.

Sinto-te


Levanto os braços

Cerro os punhos

Contraio os músculos outrora adormecidos

Molho os lábios

Abro a boca

E grito!

Grito porque estou vivo

Grito porque sinto

Grito…!

Grito até que me doa a garganta

Grito até sentir o sabor metálico do sangue

Porque estou vivo!

E depois,

Sorrio

E rio

Gargalhadas loucas

De mente insana.

Estou vivo, por isso grito

E rio.










by Moon_T



segunda-feira, 7 de julho de 2008

Crónica de Pecados


Uma crónica introspectiva de como vejo o Pecado:



Luxúria: é um desejo sexual desordenado e incontrolável. Segundo a Doutrina Católica, é um dos sete pecados capitais e consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade.







Pensando na tua figura feminina, tão atraente e sensual que É.

Memórias vivas de momentos repletos de sedução e sexualidade avassalam-me a mente.

Recordo o cabelo caído a tapar a luz do candeeiro da mesa-de-cabeceira. O toque húmido por trás do pescoço onde entrelaço e enrolo os dedos e puxo para que se estique a jugular que me chama os lábios.

Os olhos semicerrados que em vez de branco se vê negro, num vazio intenso de prazer.

Aquela língua que molha tão lascivamente os lábios carnudos a suspirar de desejo.

Relembro as minhas mãos fartas a escorregarem pelas costas como se arranhassem, percorrendo a espinha, delineando aquela curvatura, contornando o dorso até se encontrarem nos seios voluptuosos. Os mamilos erectos apontam para os meus lábios que os absorvem e mordem sem pudor.

Rememoro as unhas que se passeiam em meu peito enquanto penetro impetuosamente a humidade do teu sexo.

Os gemidos murmurados, as mordidelas, o toque, o cheiro, a tesão…

Revivo constantemente a salada de frutas exóticas que tão facilmente vi teu corpo se transformar, banhado no mais refinado chocolate derretido no calor dos corpos, no prazer, no desejo.

Ainda tenho o cheiro entranhado na minha pele como que se já se tivesse alojado e apropriado e não fosse sair jamais. Ainda te sinto a saliva a escorrer no meu falo, no meu pescoço, no meu peito, nos meus lábios, em mim. Ainda tenho o teu sabor… e que orgia de sentidos é esta que tanto me apraz!

Apeteces-me!

É por todos esses factores que não nego, pelo contrário, que abraço com toda a paixão, que sei e admito que sou, de facto, um pecador.

És o meu pecado… Luxúria


By Moon_T





boomp3.com

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ao jantar...



Sentados à mesa, composta de uma vasta panóplia de cores e sabores, a refeição estava a meio e a garrafa molhada, suada do gelo que a cobria e pingava, observava a linguagem silenciosa que trocavam, somente com o desejo como som de fundo.

Largavam-se sorrisos tímidos e piadas sem graça na tentativa ridícula de disfarçar a óbvia ânsia pelo toque. Hábeis jogos camuflados de sedução…

Deu-se uma pausa na fútil conversa que ninguém tomava atenção por estar demasiado envolvido na fantasia que os envolvia e após um curto silencio, uma subtil mas desesperante pergunta foi exposta:

-“Em que pensas?” – Perguntou ele.

Tudo parou naquele momento de expectativa...

Devorava ansiosamente a imagem feminina que se sentava diante dele.

Alimentava-se mais daquela deslumbrante vista que do próprio banquete exposto na mesa, meio consumido ainda.

Ela, em resposta e sem ter sequer tempo para ponderar em palavras que traduzissem o que estava a pensar;

Cabisbaixa, desviou o olhar do copo meio vazio que fixava e inclinou ligeiramente a cabeça para a esquerda, deixando deslizar os cabelos descobrindo-lhe a face por completo e olhou para a sua direita, onde ele se encontrava.

Seus olhos denunciavam o farto consumo daquele vinho geladamente pecaminoso. O olhar de um misto de antagónica inocência e de um total desejo carnal por aquele ser diante dela.

Muito vagarosamente, como que em câmara lenta, o seu braço elevou-se da mesa onde repousava. Os olhos dele sem abandonar os olhares que se entrelaçavam, pelo canto do olho, tomavam atenção aquele lento gesto que, esperava, lhe responderiam à pergunta.

À medida que o braço se elevava e curvava, um dedo sobressaía dos outros, ficando o punho semicerrado.

Enquanto a mão se aproximava da boca, os lábios descolavam-se permitindo que os dentes espreitassem o dedo a aproximar-se.

A língua molhou os lábios carnudos como uma serpente.

Com os olhos fixos nos dele, ela mordeu ao de leve o dedo e pestanejou demoradamente.

As pálpebras fecharam-se e ao subirem revelaram o branco do olho até que a pupila se desvendou, os olhos pareciam revoltos de prazer.

Os dentes libertaram a ponta do dedo que depois se passeou pela textura polposa daqueles lábios libidinosos.

Ele ao ver o pormenor daquele movimento, notando a fálica ponta do dedo tão húmida que reflectia a luz emanada pelo candeeiro antigo que pairava sobre eles, arregalou os olhos e esboçou um sorriso quase demoníaco, ergueu o braço em direcção ao garçon e quando este os abordou, só disse:

“-A conta por favor!”



By Moon_T




"Chacais"






Balbuciam falsas profecias

Com discursos em tons honrosos.

Enquanto burlam as maiorias,

Iludem comunidades e enchem seus bolsos.


Diáconos da falsidade

Fraudam famílias inteiras

Ludibriam a sociedade

Pregam rezas infelizes e batoteiras.


Sugam tudo até ao tutano

Ano após ano, após ano, após ano…

Compondo Missas atrozes que sufocam a liberdade


E assim vai continuar

Elegidos pelos ditos heróis do mar

Homicidas da esperança e da verdade



By Moon_T

terça-feira, 1 de julho de 2008

Lex Tallionis, o 1º conto de terror





Em serena paisagem, um místico orvalho cai sobre o jardim onde modestas camas de mármore se estendem às centenas. Uma suave brisa acaricia as flores que se amontoam aos pés de tão humildes campas. Dizeres de amor e saudade são gravados já como ritual:“Descansa em paz”.

Paz… algo que esta alma cujo corpo jaz deitado dentro de um caixão de madeira em que nem as térmitas ou insectos se atrevem a entrar. Tresanda a morte, a injustiça, a violência e a raiva. Sua tez já tão pálida que quase transparente, notam-se as veias azuladas onde outrora correram litros de tépido sangue vermelho cheio de vida e paixão.

Ceifada de forma brutalmente violenta, inesperada e sem razão, a sua alma escavava o seu caminho para fora daquela campa imunda e fedorenta.

Após inúmeras tentativas, finalmente, o brilho prateado do luar furou a terra que se amontoava por cima daquela singela caixa castanha. A terra húmida e fria deu de si e abriu alas para que um sôfrego grito se soltasse. Evadiram-se vapores como géisers vulcânicos presos há anos vindos do mais escuro centro da terra.

Desconhecendo ainda a sua forma incorpórea, aquela alma penada soltou-se e desatou de correr desenfreada pelo meio da neblina. Lágrimas corriam-lhe pelo rosto, formando riscos debutados à medida que a face ganhava expressões de inconformidade, dor e raiva.

A inocência ficou na campa.

Nada senão vingança se instalava naquele ser. Em tempos fora filha, fora irmã, fora amante… e por último, vitima.

Flashes incessantes de um cenário agressivo e grotesco de gritos, de dor e sangue tomavam conta de todo o raciocínio lógico que lhe restava.

Vingança era a única coisa que prevalecia.

Instintivamente, seguiu o rasto do seu assassino. Sentia ainda as suas mãos a apertarem-lhe o pescoço, ainda mantinha o sabor salgado das gotas de suor que lhe entraram na boca enquanto a tinha aberta a berrar por ajuda, a pedir clemência.

As luz dos carros que se cruzavam na estrada encandeavam-na fazendo com que abrandasse a corrida e cambaleasse pelo asfalto, a sentir a sujidade da borracha dos pneus gastos e restos mortais de cadáveres dos animais mortos à beira da estrada em seus pés feridos e nus.

Deambulou horas sem se cansar, apenas a vingança lhe corria nas veias sobressaídas da pele, o motor que fazia aquele corpo materializar-se e mover-se de forma tão invulgar, desumana.

Sentiu-lhe o fedor finalmente. Gargalhadas sonoras ecoavam ao longe e penetravam-lhe a mente de forma hipnótica, seguiu-lhes o eco.

Os seus olhos esverdeados, já quase incolores, semi-cerraram-se e a sua respiração acelerava à medida que alargava as passadas. Consoante inspirava, ao expirar, um rosnar animalesco ia-se tornando cada vez mais forte. Inicialmente assemelhava-se a gemidos, mas à medida que se aproximava o assassino, transformava-se em gritos destorcidos vindos das entranhas de um corpo sem vida.

Nem as portas trancadas do seu lar impediram que entrasse.

Já dentro do quarto daquele ser inclassificável, parou aos pés da cama e cerrou os punhos com tanta força que as unhas, já amarelas, se cravaram na pele libertando espessas gotas de sangue vermelho-escuro no chão de madeira, deixando nódoas que jamais sairão, cravadas no soalho.

Como se tivesse premido um botão para acelerar a imagem, rapidamente se aproximou do corpo deitado sobre a cama, sem quebrar o silêncio.

Aproximou-se da cara pacífica dele, sentiu-lhe o bafo que lhe trouxe à memória as imagens inesquecíveis de quando o sentiu a violar as narinas onde se alojara até aquela data. O frio que emanava do corpo fez com que o homem que dormia sentisse um arrepio e se ajeitasse ligeiramente. Ao mover a cabeça, roçou ao de leve, face a face com a defunta. Abriu automaticamente os olhos e deparou-se com os dela, cheios de chamas de raiva a brilhar no escuro como duas estrelas polares na noite.

Sem que sequer tivesse tempo de reagir. Sentiu o terror trespassar-lhe a goela. Sentiu a barriga rasgar-se conseguindo ainda ouvir ruídos viscosos das próprias tripas a escorregarem para os lençóis. Sentiu tudo o que tinha provocado a outro ser, com juros.

Os lençóis ficaram ensopados, tingidos de vermelho, e antes que soltasse o ultimo suspiro, antes do último batimento cardíaco, ainda foi a tempo de ouvir os gritos aflitivos daquela entidade que lhe sugava a vida com todo o rancor que restava e as seguintes palavras em surdina:

“Assassino!

Porque?

Responderás no inferno que lá nos encontraremos.”

A história repetir-se-á até que esta alma tenha paz… provavelmente, nunca terá, até ao fim dos dias.

By Moon_T






















* imagem de Jean Sebastien Rossbach

Fotografo





Olhou de relance para a fotografia na parede
Quando não se viu nela apoderou-se o pânico
(morreu...)
Esqueceu-se que estava por detrás da objectiva...


By Moon_T



Also...

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