terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Absurdo


Sonho; despir-me da realidade, descalçar-me da lógica. Nascer num qualquer outro sítio irreal. Surreal. Viver segundos eternos de uma vida à deriva. Viver entre os segredos. Correr descalço sobre um caminho de nuvens. Morder a língua da sombra e vê-la fugir de mim, e depois voar em acrobacias mortais e apanha-la de novo só para mim.
Falar com ninguém de boca fechada. Conseguir ler olhos mudos e beber palavras perdidas.
Sonho despir-me da realidade, descalçar-me da lógica, correr descalço por entre os pingos de chuva, saltar, e mergulhar num imenso lago de ridículo.




Moon_T

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Desaperta o colarinho



"Pensou; Desaperta o colarinho. Desamarra a gravata. O quente, o vapor, o calor, sobe pelo corpo e aperta o pescoço. Afoga. Sufoca. O cigarro já está morto mas vive ainda na garganta. Queima. Arranha. Áspero. . . Desce o fogo pela garganta arrastado pela saliva, e escorrem pelas costas, lentamente, as carícias do salgado suor. A roupa aperta. . . E aquece. O mundo todo pela gravata que se prendeu ao pescoço num longo abraço sufocante. Respira. Inspira. Respira enquanto o mundo passa. O mundo todo passa. . . O mundo passa e aperta. O mundo passa num aperto. Desaperta o colarinho."




Moon_T

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Torre de anjo




Por entre o Caos, um rasgo de silêncio chamou. Desviando-se das cartas espalhadas pelo chão acidentado que fora outrora um castelo, cambaleou em busca da fonte daquela brisa que, em silêncio, gritava seu nome.
Atravessou a ponte, ganhando consciência dos olhos répteis que o fixavam de esguelha escondidos nas folhas verdes escurecidas pela noite.
Uma chuva de prata iluminava a Torre que emanava ondas invisíveis de silêncio, que ao tocar na pele, lhe aqueciam o peito e lhe permitiam respirar como nunca antes o tinha feito.
Em baixo, à entrada, uma porta dupla que, até a um gigante, mais faz sentir um insecto, obstruía-lhe a passagem. Baixou a cabeça ao ver impedido o acesso ao interior daquela Torre que tanto o fascinava e atraía.
Ao encostar-se em desespero, qual não foi o espanto que aquela imensa porta estava aberta… Abriu-a lentamente e, suavemente, ouviu-se o gemido sussurrado que era o seu ranger.
O cheiro a sândalo descia pela escadaria em caracol. Iniciou a subida em espiral sem sequer dar importância ao facto de não haver corrimão. Passou as mãos trémulas pela pedra fria que vestia as paredes e sentiu a sua textura rugosa, porosa, como pele. À medida que o topo se aproximava, a melodia envolveu-o aquecendo-lhe o peito … e as cartas e baralhos e castelos que dantes o assombravam perderam o significado. Não desapareceram, não! Simplesmente, ganharam outro valor.
Ao chegar ao cume, deparou-se com um ninho escarlate, macio e suave. Puro. No seu centro jazia uma criatura linda e frágil. Nua e feminina. Em posição fetal, notavam-se as cicatrizes de lutas passadas tatuadas na pele suave. Cabelos escuros, lisos, serpenteavam-se pelos ombros. Seus olhos negros, abriram-se lentamente e olharam-no nos olhos, como se tivessem captado a mesma essência que ele mesmo captara ao deparar-se com tal etéreo anjo. Ao segundo olhar tomou consciência de que era realmente um anjo… um anjo que perdera as asas.



Moon_T

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