Perante a incapacidade de lidar com um específico imprevisto baixei a guarda. Abrindo caminho ao cobarde que se escondia por detrás de caras desconhecidas…
Caio para a contagem. Menos tempo levo a levantar-me que a cair.
Rastilho para uma cadeia de subtis acontecimentos…
No breu da noite despida de estrelas, a neblina cerca as imediações.
O orvalho que cai sobre o metal, silencia os barulhos dos portões a fechar. Nem o habitual som estridente do trinco se ouviu.
Rasga o silencio o barulho das maquinas inúteis encostadas às paredes nuas e gordurosas.
Deixaram de se ouvir os ecos das vozes pelos corredores.
Doem as cabeças dos dedos no calor que se sente na mão que segura o cigarro amachucado e queimado.
Sons de dentro do corpo… as entranhas revoltam-se contra o mundo exterior.
Pulpita a veia na fonte provocando um barulho ensurdecedor ritmado e constante.
Empardecem as pálpebras e chovem pelos olhos enraizados gotas ácidas corroendo a visão.
Mais um trago no copo já meio vazio…
Despido da imundice que se entranha na pele, fruto de um habitat podre e artificial, esfregam-se freneticamente os membros na tentativa de libertação… (“liberta-se a sombra.”)
À muito que o saber metálico do sangue não morava na garganta. Nem caía da boca a cor vermelha.
Enrubesce a água que enfraquece a mucosidade e escorrem as gotas pelo ralo.
O espelho enviesado, pendurado na parede de azulejos brancos, estava tapado pelo vapor que nasceu.
Qual o espanto ao desembaciar o vidro, que a imagem sumida que se reflecte, se começa a parecer comigo.
Visto nova roupa lavada, levanto a guarda, refaço a armadura mental e retomo o futuro.
O futuro é hoje.
By Moon_T
6 comentários:
Caro Moon_T,
Prevejo inúmeros cenários, desde o mais subtilmente etéreo das sombras ao mais brutalmente concreto, mas em qualquer um deles alivio o pensar ao saber que te refazes e que te lavas da lama asquerosa... Nem sempre é fácil, mas haja força e...plagiando uma frase tua: "Haja força e vontade de fazer força".
Até porque cair está entranhado nos poros de qualquer ser humano, até nos desumanos. Qualquer lama, atrás do belo vestido da areia, é em sua parte fascinante, o problema urge quando a lama é areia em qualquer um dos seus aspectos e propositadamente nos permite o delito do ser preparando-se o engolir da boa vontade e bem querer…
Enfim… todos nós caímos; uns mais que outros. Mas nem todos se levantam rapidamente e nem todos se levantam de facto, depende da densidade do chão e da fragilidade do corpo. Grave será quando petrificamos na lama…
Um grande bem-haja pela coragem de retomares o futuro já hoje.
Corajosos Cumprimentos,
Fecho os olhos,
e leio-te.
A libertação de tudo o que prende. Volta-me a palavra do medo.
"O futuro é hoje."
Baixar a guarda,às vezes deixa que se aproximem de nós...Delicado texto.
Beijito
Meu outro blog
OlharIndiscreto
...aqui e agora, sem adiamentos ou hesitações.Enceta o teu futuro antes que se esvazie, que seja escoado na corrente!
Ler-te é muito bom!
beijo
Volto para te ler mais tarde, quando ao anoitecer, recostar-me na poltrona, puxar o cigarro, e verter o whisky barato no copo para te acompanhar...
Um beijo.
já tinha lido. no dia em que o publicaste. foi tal a confusão que não consegui pensar direito. voltei a ler ontem. continuei confusa. coloquei toda a minha atenção aos mais pequenos promenores. continuei na dúvida.hoje voltei e lancei_me no ataque a pequenas pistas. nada.tentei isolar palavras. quase um labirinto. desde que começas o texto até ao fim que regressa ao princípio. parece um tempo circular o teu.
"cadeia de subtis acontecimentos..." pois então temos a noite quando as portas se fecham a sete chaves e os cadeados deixam escorregar o ruído das correntes. não.
fuma_se.
queima_se o tacto...pois bem. também não. sons de dentro do corpo. "barulho ensurdecedor ritmado e constante". talvez. porque não?
bebe_se.
despe_se o corpo para ver a alma de olho nu. liberta_se pois então. a respiração embaciou_te. será?
perdida assim na leitura que te faço. do teu presente que é amanhã. porque o futuro é já hoje.
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