terça-feira, 30 de setembro de 2008

Assim seja












Após caminhos percorridos e separados, olho com ar afadigado para o lado.

Observo as pegadas que ficaram para trás, num terreno lamacento.

Os nós que se desfizeram caídos no chão em cordas estendidas na lama, sujas e gastas. Inúteis como sempre o foram.

Noto o quão é bom respirar sem apertos no pescoço.

Assombra-me o facto de, por tanto acariciar, passarem as minhas mãos por cordas e os dedos por nós. Que um abraço se torne num aperto…

A corda presa serve de segurança, onde se agarra para não cair. Nunca para apertar…

Já senti a forca ao pescoço e não, nunca serei eu a pressão que nos sufoca e tira o ar…
nodosidades que nos matam e consomem. Não, jamais!

Ao tropeçar numa ponta ainda solta, perante uma queda inevitável, opto por libertar um cadafalso que se impôs, troco nós por laços e mesmo sabendo que, caso o destino o queira, estrangula da mesma forma, e ignorando o facto que tanto outrora me atormentou (que o laço se desatasse), continuo. Agora sem nós.

Deixo o trilho mostrar-me o Norte, tendo agora a certeza que se me perder foi opção do caminho e não por outra qualquer razão.

Passo os cruzamentos e encruzilhadas que se opõem, se eles lá estão, nada há a fazer senão aceitá-los e apenas atravessá-los. Sem medos.

Aceito o caminho como espero que o caminho me aceite a mim, é a única forma.


Perante isto recordo as palavras de um mestre que tanto sentido fazem:

“Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!”
José Régio



Os medos não se extinguem, os receios não desaparecem, mas sem duvida, aceitá-los e controlá-los é a única coisa a fazer.

Assim seja.





By Moon_T

4 comentários:

ivone disse...

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali..."

é. como tu também eu me sinto perseguida por este cântigo dele. e neste teu texto estás lá. assombra_te o facto de tanto acariciares as tuas mãos que passam nas cordas e os dedos nos nós. nós que temos a nossa loucura levantamo_la na noite escura para com ela nos entrelaçarmos.

só há que não nos perdermos pelos labirintos porque os caminhos já temos...sem medo. medo de quê? eu só tenho medo é de mim.


ps: e gostei particularmente da segunda foto. o caos de cemitérios de pianos onde te seguras para não seres engolido pelos teus infernos. foi essa a leitura que fiz. posso roubar_te?

(in)confessada disse...

"...Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada..."

Pearl disse...

Senti muita identificação com o que esceveste tenho um post sobre os caminhos(meus) lá no meu mundo!

Mas nunca me tinha ocorrido que o caminho deve aceitar-me e mim como caminhante!

beijo

Freyja disse...

Caro Moon_T,

Sabes... uma das mais magnânimes expressões de dois num eu só, é a liberdade. Palavra tão plebeiamente usada e raramente profundamente interpretada. Liberdade num espaço absorto de realidades que nos segura ao dois, na sua liberdade.
È nessa expansão de dois, num só movimento expresso, que o corpo se volta para dentro numa voluntária contracção cingida. È quase como que o dar a volta…
È o laço que liberta o nó,
o laço absolutamente livre.

È com muito orgulho que te leio assim.

Obrigada.




Libertinos Cumprimentos,

Also...

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