Olham-me de baixo para cima os mendigos, à minha passagem.
A lua paira baixa e amarela … enorme forma redonda e suja que invade em tons trigueiros os becos escuros destas ruas.
Os matreiros mendicantes debruçam-se às esquinas, espreitam por entre arquitecturas pobres e degradadas.Sentados no chão imundo, de roupas rasgadas e maculadas, enrolam-se em si mesmos na tentativa vã de se sentirem.
Vestidos de rostos usados… caras queimadas do tempo, do vício e dos erros.
Por entre o escuro ambiente em que passeio, o amarelo enraizado dos olhos rasteiros e abjectos, entranha-se-me pelo corpo… à passagem, aqueles olhares tocam-me a nuca em calafrios.
Apenas o som dos meus passos se sobrepõem aos falsos gemidos que trepam as paredes pútridas que revestem o cenário.
Até os convites miseráveis das cadelas prenhas que se coçam não passam agora de meras brisas nómadas pelas ruelas. Brisas que servem apenas para secar a lagrima que se descuida pelo rosto.
Baixam-se os estores, fecham-se janelas e trancam-se portas ao mero toque da minha sombra passageira. . . Reflexo da minha ausente presença que desliza muda pela caminho.
Voa a ponta incandescente em cambalhotas decadentes que parece não ter fim.
…e a lua não limpa…
Saio dos becos frios para uma avenida vazia. Os candeeiros intermitentes zumbem-me aos ouvidos como segredos demasiado baixos para serem perceptíveis, no entanto, sonoros de estática interferência.
Não olho para trás…apenas para baixo.
No cruzamento ergo a cabeça e encho o peito. Abraço o casaco que se revolta ao vento...
. . . e sigo para o calor da lareira que me espera…que apenas desejo ainda estar acesa.
By Moon_T
2 comentários:
Ao ler-te senti a chuva miudinha que torna tudo ainda mais pestilento!
...muito bom!
beijo
O que mais me atrai a ti, não é a capacidade que tens de assimilar as imagens ao que escreves... sei que não é fácil, e por tantas vezes mal compreendidas. O que me cativa aqui neste teu mundo desconhecido, misterioso e sublime (assim te caracterizo!), é a sensibilidade com que fazes a escolha da melodia para as tuas letras.
Não te conheço, nem sei sequer o teu nome, mas sei que fazes uma entrega total de ti a este teu mundo, porque é tudo tão único, tão autêntico que parece quase surreal... é quase como visitar os recentos de Sintra. Quando entro, sinto-me perseguida... sinto o arrepio estranho, mas não olho para trás, sigo em frente... porque a única coisa que quero é ser LIVRE! ;))
Mil beijos.
P.S. Levo o som comigo.
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