sexta-feira, 31 de outubro de 2008

P.O.E.




Escurecem os dias

Prevalece a inércia mental dos ditos iluminados.

Perdem-se os sermões em monólogos circulares que se movem em espirais decadentes.

Ouvem-se ao largo os oradores com discursos eruditos que não passam de vendedores da mentira. Mentes dementes de pensamentos corruptos envolvidos por um qualquer capital fantasma.

Epifanias sistemáticas que não passam de fraudes regurgitadas por falsos profetas com o único intuito de iludir as mentes preguiçosas que cederam à corrupção capitalista diária a optar pelo mal menor. Plutocratas vazios de ideias sem ideais.

Hipocrisia cega que conspurca a sanidade mental dos santos.

Urge o grito da revolta!

Muito mais que um simples cartão branco… que acordem os adormecidos ou de uma vez por todas deixem morrer em paz.







By Moon_T

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Rasgaram-se-me as páginas





As folhas gastas da sebenta já se esqueceram do gosto da saliva que outrora morou nos seus cantos. Foge a tinta para a lombada com o pingo mordaz perdido por entre as páginas.

Bailam as letras perdidas ao som do rasgar das folhas desgarradas.

Libertam-se as páginas antigas cobertas agora de um amarelo cansado.


Na escrivaninha, mantêm-se as manchas do copo meio vazio, companheiro das noites solitárias.
Solta-se a cera da vela incandescente.

Pela luz ténue sobressai o fumo suspenso da morte de um cigarro.

Jaz agora o caderno vazio das escritas decrépitas, com folhas virgens.

Rasgaram-se-me as páginas manuscritas entregues ao pó.

Dimana assim uma nova caligrafia.




By Moon_T

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dias que ensinam







Há dias em que tudo que se diz é incorrecto
Há dias em que todo o pensamento deve ser silêncio
Dias em que o abraço sufoca
Dias em que o beijo é ácido
em que lógica treme
que lágrima corrói
...

Há dias que tudo o que se faz parece errado
dias em que nada que se diz sai bem
em que a respiração dói
que não se devia sentir
...

Nesses dias sentimo-nos vivos.
Nesses dias olho em frente
e afirmo quem sou
eu!


Aprende-se a viver.
Haja quem ensine,
Haja vontade,
Haja...







By Moon_T

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Fantasmas atravessam o corpo




Fantasmas atravessam o corpo como punhais.

Gritam ao ouvido em sussurros sobrepostos, vozes desconhecidas, mensagens atrozes e pervertidas.

Revolto os lençóis. Afundo a cabeça na almofada, pressiono o rosto no colchão numa tentativa falhada de acalmar as imagens que me assaltam a mente.

Perdido no escuro de um quarto em que as sombras se dobram sobre mim. As paredes encolhem e sugam o pouco ar que falta.

As gotas de suor escorrem nas costas nuas e a cara húmida ensopa a almofada…

Do nada… cai uma mão suave. Escorrega pelas costas e me afaga o cabelo.

Cola-se o peito ao meu. O toque dos lábios na minha pele abre caminho para o cheiro do cabelo que me acalma o suspiro.

Acalmam-se as sombras e calam-se as vozes por instantes.

Abro os olhos na escuridão e sinto … apenas sinto.



By Moon_T

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Obrigado Fado





Deslizaram os sons naquela noite.

Um fado perdido por entre os abraços reencontrados e o brilho dos sorrisos embebidos inundou a sala.

Os turistas absortos ao que se passava mesmo ao lado, perdidos num conto de reticências, refugiaram-se na fértil ignorância das suas próprias gargalhadas. Inevitavelmente desapareceram.

Soltaram-se palavras do peito e os copos secaram as lágrimas que todos, sem excepção, tinham a derramar.

Naquela mesa rasteira formou-se um eixo onde se cruzaram todas as linhas desencontradas. Por momentos, aqueceu-se o presente.

Afirmou-se a vida como ela é... a nossa estranha forma de vida.

Reavivaram-se as decrépitas discussões que nunca terão fim. Renasceram outras por entre os dedos levantados e alternâncias de voz.

Perderam-se as horas nos cubos de gelo e copos curtos sem feitio.

Relembraram-se as vozes que cantaram e as musicas que perderam as letras.

Num brinde perdido na distância das vozes ofereci o meu nome e numa estranha forma de viver, através de um fino vidro, vozes sumidas e longínquas sussurraram: “ amigo...”

Calou-se o piano e pelas ruas amanhecidas perdemo-nos na vereda…
…Foi na antagonia daquele fado que se encontrou o caminho até um sítio que já posso chamar “Casa”.


Agradeço ao Fado por esta noite.














By Moon_T







segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Insonia









Altas horas da madrugada e continuo sem sono.

Deitado numa cama a escaldar, volto e revolto em posições que mais parecem resultar de uma queda abismal.
Trocam-se os membros, braços esticados, pernas encolhidas, pescoço virado...
Desvio os lençóis mas a temperatura continua a aumentar.

Oiço ao longe um zumbido de uma lâmpada apagada. o respirar das paredes à minha volta.
O tique-taque do relógio avariado que insiste em contar os segundos sem ditar as horas e esquecendo-se dos minutos.

tique-taque...

...tique-taque...

O ponteiro que bate cada vez mais alto impede-me de dormir.

Forço as pálpebras a fecharem e desvendam um caleidoscópio bicolor... as formas que deslizam em círculos preto e branco encandeiam os olhos já fechados.

a cada tique o calor aperta... A cada taque sinto a demência a invadir-me.

tique-taque...



Enterro a cabeça na almofada na tentativa inane de abafar as vozes de defuntos já enterrados que insistem em assombrar as noites silenciosas.



O meu próprio batimento cardíaco torna-se incomodativo num sonoro ritmo bem dentro do ouvido.

Sinto uma ligeira pressão no alto da cabeça que cresce em direcção à nuca... Passo a mão pelo rosto para afastar as impressões que se alojam na face.

Colam-se as pernas aos lençóis.

Fustigam-se nos meus ombros os murmúrios cáusticos das mentes indigentes que jurei não ouvir.


Agradeço ao maldito relógio, que não pára de contar os mesmos segundos repetidamente, no abafo dos sussurros.

tique-taque...tique taque...

Fecho-me no quarto de luz onde apenas passam os feixes de breu pelos estores estragados. As paredes brancas, sem sombras, apaziguam a alma.

Retiro-me mais uma vez para o caleidoscópio "dicromático".

Abstraio-me destes fantasmas que me rodeiam e concentro-me numa gargalhada sincera que hoje me fez sorrir.

Inspiro o cheiro que me invadiu a pele.

No sorriso, sinto a sombra do toque…

Adopto a posição fetal, agarro o sorriso e adormeço.

Finalmente


By Moon_T

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Se o sofá falasse....



Perante umas merecidas férias, sento-me no confortável sofá no meio da sala. Perco-me nas letras e em pensamentos. Historias correm pelo fumo do tabaco que paira no ar, misturado com a essencia de sandalo.



"Se o sofá falasse..."





[clickar na frase]






Sofá II











Sentada na poltrona ao meu lado, envolvida nos próprios pensamentos, está ela. Iluminada por uma luz sumida amarelada. A sua silhueta na parede parece um quadro de formas sensuais, contornos subtis de uma voluptuosidade sem cor.
Ausente de um olhar que, aos poucos, a vai despindo peça a peça.
Serena perante as cores que a envolvem.
Acende mais um cigarro… num movimento calmo e silencioso que atrai o olhar.
Sobressaem os lábios húmidos e sensuais.
No sofá, de onde não a alcanço, passo-lhe a mão pelo cabelo, descobrindo um olhar profundo. Deslizam os dedos pela face deixando um suave toque por trás da orelha, ao encontrar o caminho até ao sinal que esconde no pescoço.
Foge do decote um suave aroma de perfume que me invade os sentidos e fecho os olhos.
Ao juntar os lábios e entrelaçar as línguas, escorregam as mãos pelas curvas até as ancas onde sorrateiramente invadem e arrastam a camisola acariciando a pele morna.
Caem os braços no meu torso e puxam colando pele com pele.
Ainda o cigarro não se tinha fumado sozinho, já os corpos quentes se encontravam enrolados um no outro em movimentos friccionais que aqueciam o próprio ambiente.
Brilha o trilho de saliva que descia do pescoço ao ventre, deixando vastos labirintos por entre os seios, perdendo-se na erecção dos mamilos.
O umbigo convulsionava em harmonia com serpentear das ancas à medida que as mãos aqueciam o interior das coxas e a língua sugava os sentidos por entre as pernas.
Servindo a parede de alicerce e os corpos de ponte, na austera penetração soam gemidos mudos de prazer…
Desencontram-se os corpos em convulsões contrastadas cada vez mais agressivas e aceleradas… curvam-se as costas descobrindo novos ângulos… ecoa o som da mão na nádega, colam-se os dedos às ancas…
O cheiro de caramelo queimado encontra o caminho para as narinas, extingue-se a ponta do cigarro enterrado na cinza dos já apagados.
Abro os olhos e mantenho-me inerte no sofá, a olhar para ela… linda, sem se aperceber de como um simples gesto inato é capaz de despertar a faísca em mim.
Sorrio ao olhar de novo para ela. Enquanto me devolve o sorriso recosto-me neste sofá … e acendo agora o meu cigarro.



By Moon_T

Sofá I






Sentado no sofá, há horas que te observava. Os teus cabelos a escorrerem-te pela linda face. Os olhos que brilhavam por entre as brechas do olhar. Os teus lábios carnudos e língua ágil. As tuas formas… os teus seios, de mamilos a clamarem o meu nome. A tua barriga à medida das minhas mãos fartas e a tua cintura, perfeita quando nos encaixamos. As tuas pernas onde me perco tempo sem conta…
Há horas que te imaginava em mim e eu em ti. Como um só.
Até que notaste como olhava para ti. Ali especado. A tentar esconder uma erecção fruto do desejo que sinto por ti.
Sorriste, levantaste-te e perguntaste apenas com um olhar, de quem absorveu os meus pensamentos, num tom tão sedutor: Que foi? …
Dirigiste-te a mim e despiste as calças apoiada em mim, impossibilitando que me mexesse. De seguida levantas-te a perna e apoiaste-a ao meu lado, encostada ao sofá, com o joelho ao lado do meu ombro. Passaste a outra perna por cima de mim e com a perna em cima do meu ombro puxaste-me a cabeça para ti. Apenas, sem mais nenhuma palavra. Não era preciso..
Vislumbrei-te húmida e só te quis lamber, ali, naquele momento. Ambos o queríamos.
O teu respirar sôfrego só fazia com que os meus braços se enrolassem mais nas tuas pernas e te puxassem mais, te agarrassem atrás… e te lambesse.

Os gemidos ecoavam na sala.
Sentia o teu sabor, sugava-te…
Após longos instantes, deslizas-te por mim abaixo em beijos, mordeste-me o pescoço, chupaste-me os mamilos e passeaste a língua até à cintura. Agarraste-me em desejo, brincaste e chupaste-me louco.
Sentaste-te em mim numa loucura desenfreada. Em “cavalgada” roçamo-nos todos, um no outro até que a posição já não chegava. As chapadas que dava já não eram suficientes.
Apoiaste a cabeça as costas do sofá, abriste as pernas e esticaste as costas, numa curvatura sublime. Penetrei-te ao mesmo tempo que te segurava os cabelos. À medida que puxava, deslizava mais em ti. O calor era imenso.
Sentíamo-nos em completo.
À medida que as minhas ancas se mexiam sentíamos tudo, quente, húmido…prazer.
A aceleração era inevitável e a força aumentava cada vez mais. Os gemidos eram mais marcados, o gozo cada vez maior.
A tua mão escorregou para ti e sentia os teus dedos a tocarem em mim enquanto te penetrava e te acariciavas.
Tudo aumentou.
Até ao orgasmo…
A tua cabeça contra o sofá, as minhas mãos nas tuas ancas, os nossos sémenes misturados… o nosso suor…
Nós.



By Moon_T

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Hoje não me apetece sorrir.











Hoje não me apetece sorrir.

Acordei ao cair da noite.
O corpo molhado do calor dos lençóis que cobriram o amanhecer secou.

Eleva-se a brisa. Bailam os papeis amarrotados ao vento. Dançam melodias imperceptíveis que dantes talvez ouvisse. Apaziguavam os gritos mudos que se manifestavam em revolta de tudo e todos.
Os lábios mornos e húmidos nos meus chegaram a acalmar os demónios que tentavam rasgar a pele.
O toque aqueceu a pele por momentos.

Refundiu-se um ser numa caverna escura, algures no âmago de um mundo de dor e gemidos tortuosos.





Ouve-se ecoar as minúsculas passadas dos roedores rastejantes. As unhas a baterem na pedra fria aos milhares. Guinchos ensurdecedores derramaram a primeira gota de sangue.
Acelera o batimento cardíaco, palpitam as veias cada vez mais fortes e o sangue aquece cada vez mais.
Ao longe já se sente o sopro das vozes que forçaram o adormecer para que um novo dia nascesse.

Escorre o suor pela pele e o cabelo molhado ao luar já não é o suficiente para acalmar o espasmo visceral do renascer do Grito.
Tornam-se olhos oceanos e a vista turva, tende a emergir apenas as peças ocas de um soalho que se vai destruindo aos poucos.


Os ratos saem do covil. Cobrem os jardins floridos num breu desassossego e pintam as paredes de um negro flutuante.
Escalam pelos corpos pacíficos e no alongar dos dedos pelo pescoço nasce uma nova razão…

As garrafas secam, os gargalos alargam e perde-se a melodia nos becos e ruelas sem cor.

Estende-se o lixo pelas ruas. Dejectos urbanos de vidas sem nome. Transbordam os esgotos e nos passeios andam os ratos cinzentos de orbitas amarelas e de unhas a faiscar pela calçada.



Sinto as unhas frias a enterrarem-se no peito… oiço os risos podres ao ouvido…
Escorrem pingos de sanidade que desbotam a tez…
Sinto o rasgar da pele.




Acordo no meio de uma revolta rastejante… ou adormeço?...
Seja qual for a resposta, perante o que sinto e o sabor que trago na garganta, perante esta raiva que me invade a mente…


…Hoje não me apetece sorrir.








By Moon_T

sábado, 11 de outubro de 2008

Retomar o futuro







Perante a incapacidade de lidar com um específico imprevisto baixei a guarda. Abrindo caminho ao cobarde que se escondia por detrás de caras desconhecidas…
Caio para a contagem. Menos tempo levo a levantar-me que a cair.
Rastilho para uma cadeia de subtis acontecimentos…






No breu da noite despida de estrelas, a neblina cerca as imediações.
O orvalho que cai sobre o metal, silencia os barulhos dos portões a fechar. Nem o habitual som estridente do trinco se ouviu.


Rasga o silencio o barulho das maquinas inúteis encostadas às paredes nuas e gordurosas.
Deixaram de se ouvir os ecos das vozes pelos corredores.


Doem as cabeças dos dedos no calor que se sente na mão que segura o cigarro amachucado e queimado.




Sons de dentro do corpo… as entranhas revoltam-se contra o mundo exterior.

Pulpita a veia na fonte provocando um barulho ensurdecedor ritmado e constante.
Empardecem as pálpebras e chovem pelos olhos enraizados gotas ácidas corroendo a visão.



Mais um trago no copo já meio vazio…




Despido da imundice que se entranha na pele, fruto de um habitat podre e artificial, esfregam-se freneticamente os membros na tentativa de libertação… (“liberta-se a sombra.”)



À muito que o saber metálico do sangue não morava na garganta. Nem caía da boca a cor vermelha.
Enrubesce a água que enfraquece a mucosidade e escorrem as gotas pelo ralo.



O espelho enviesado, pendurado na parede de azulejos brancos, estava tapado pelo vapor que nasceu.
Qual o espanto ao desembaciar o vidro, que a imagem sumida que se reflecte, se começa a parecer comigo.



Visto nova roupa lavada, levanto a guarda, refaço a armadura mental e retomo o futuro.




O futuro é hoje.



By Moon_T

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Elemento perfeito









Imagem fidedigna das convulsões da natureza acolhe-me no alvoroço de um céu repleto de nuvens.

Abraça-se o sol e a lua no firmamento.

Ao ouvir o sermão, árvores fazem vénias em ritmos doces e lentos. Assentem perante a angústia voraz implícita num rugido sem dono.


Manifesto edace de um estado sem espírito numa plêiade de sumidades incandescentes.


Colido com este ensejo tornando-me parte integrante da própria conjuntura.


Integro-me e entrego-me vestido apenas dos raios de sol que aquecem a pele e sinto o vento a segredar-me…

Perplexidades são esclarecidas por doutas melodias natas e eruditas para além do Verbo.

Afirma-se a caule na terra, digere-se o fel…

Deito-me no regaço de uma pedra branca, “Jaspe” seu nome, e sinto-lhe o pulsar do coração.

Envolta-se a tez sardónica na cristalinidade e rasga-se um sorriso esmeralda pelos céus.


Surge o trono sagrado … estridente e natural.


Da concomitância surge o perfeito elemento.


A harmonia da Arte.





By Moon_T

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Polaroides de personalidade










Reposição fraccional de identidades sobrepostas. Empilhadas temporalmente, apresentando uma flutuante nitidez inconsistente.


Passam frames que se congelam para a dissecação.

Perante a tentativa e erro pousam-se as polaróides pelo terreno lamacento formando
assim a estável plataforma que se denomina confiantemente de “
caminho”.


Aos poucos me vou reconhecendo e ganhando de mim mesmo.

Escusados passos recuados, serão aos poucos retomados na cadência da evolução.

Só ganho o que posso perder…



… e o caminho é longo.











By Moon_T

domingo, 5 de outubro de 2008

Há dias assim…



Tenho a mente gasta...


O teu toque ainda se passeia em mim


E ainda tenho o sabor do teu cheiro.




Ardem-me os olhos …



Faltam-me as palavras.

Cinjo-me de nada e aguardo que passe o silêncio.



Há dias assim…


Perco-me nesta cadeira muda



E
sonho em ti me encontrar.














By Moon_T

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ontem fiz um novo mapa do teu corpo.












Ontem fiz um novo mapa do teu corpo.


Os pingos de água que caiam do chuveiro ensinaram-me novos caminhos.


Escorriam pelos cabelos, passavam no rosto. Penduravam-se nas pestanas dos teus olhos fechados. Escorregavam desenhando-te a face e acariciavam os lábios da tua boca semi-aberta.


O som do embate da água corrente cantava a lascividade do teu corpo.


O efeito da luz ténue enfeitava-te ao reflectir nas gotículas que se prendiam na pele.


Notei quando levaste as mãos ao cabelo, os lagos que nasceram na curvatura que se criou entre o pescoço e os ombros. Uma queda de água que transbordava e encontrava o caminho até ao peito.


Descobri um novo sinal. Descoberta relevante perante a escassez de monumentos que existe no teu anfractuoso deserto… Saltou por entre os fios de cabelo que se desenlaçaram desnudando o pescoço, revelando mais uma singela onírica miragem.



Invejei os rios que te descia pelas curvas.
Desenhavam as formas… rodopiavam nos seios brincando nos mamilos de onde mergulhavam para o mar a teus pés.



Como te assentava o vestido de água que se ajustava na perfeição em tuas lúbricas ancas.

Molhava-te a barriga que brilhava na descida para o celeste oásis do teu deserto encharcado.

As gotículas que se prendiam foram-se juntando em rasgos de água que se esvaíam pelas coxas, desciam as pernas e suavemente te desciam aos pés onde se despediam de uma viagem divina.




Fotografei todas as paisagens e acidentes naturais na mente. A cada pestanejar, um flash


Fiz um Atlas do teu corpo que preservo, guardado em destaque numa mesa de cristal.



By Moon_T

Até voltar





Condenso uma só frase nos lábios

ao juntá-los aos teus.

Perpetuo o beijo...





Deixo o teu corpo deitado


Mas levo comigo o teu toque.




Trago-te em mim…


Até voltar.




By Moon_T
Boomp3.com

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Caminho para um reflexo






Num passeio como outro qualquer...
Numa simples caminhada,
observo os transeuntes que se cruzam no meu caminho.

olhares levados pela brisa que se sente nos corredores de vitrinas que parecem não acabar.
Mendigos estendidos no chão de mãos estendidas,

invisíveis para os cegos que os atropelam.




As linhas alongam-se pelo chão.

Desaparecem na calçada gasta.

Sonâmbulos divagam em monólogos,
conduzindo orquestras inexistentes sem batuta.



Debruçam-se os gigantes sobrepondo as suas sombras sobre mim.
Acolhendo aves indiferentes a qualquer presença.
Candeeiros fundidos e semáforos intermitentes iluminam o meu caminho.




O cheiro a maresia misturado com os vapores dos esgotos que correm pelas ruas entranha-se nos sentidos.
os gritos das gaivotas entrelaçam-se com os gemidos de dor dos mutantes perdidos nos becos da memoria.
As ruas estreitam-se e abro os braços.

Deslizo os dedos pelo tijolo húmido que me envolta.

Sinto a sua textura e fissuras.



Abrem-se as portas de madeira escura, rangendo ao longe.

Pé ante pé... um passo seguido de outro...
gastam-se as solas pelo caminho.
Sentem-se as pedras espalhadas pelo chão.

Ao fundo da ruela há um largo.
Uma fonte iluminada por uma panóplia de cores e sorrisos.


...Uma fonte sem santos...


Oiço a agua a cair clamando meu nome, sinto-lhe o vapor.
Na saliva já se encontra o gosto do sal corrente.

Vejo o meu reflexo tremido nos salpicos.



Olho-me nos olhos, fundo-me em mim.
Mergulho no meu reflexo cru

E perante as gotas que me escorrem do rosto, que devolvo a fonte,

no caos que se dá na agua, após o desassossego das gotas, acalma-se a superfície e o que vejo no reflexo...
...não sou só eu, mas também tu.





By Moon_T

Also...

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