quinta-feira, 18 de setembro de 2008

À passagem...







Olham-me de baixo para cima os mendigos, à minha passagem.

A lua paira baixa e amarela … enorme forma redonda e suja que invade em tons trigueiros os becos escuros destas ruas.

Os matreiros mendicantes debruçam-se às esquinas, espreitam por entre arquitecturas pobres e degradadas.Sentados no chão imundo, de roupas rasgadas e maculadas, enrolam-se em si mesmos na tentativa vã de se sentirem.

Vestidos de rostos usados… caras queimadas do tempo, do vício e dos erros.


Por entre o escuro ambiente em que passeio, o amarelo enraizado dos olhos rasteiros e abjectos, entranha-se-me pelo corpo… à passagem, aqueles olhares tocam-me a nuca em calafrios.

Apenas o som dos meus passos se sobrepõem aos falsos gemidos que trepam as paredes pútridas que revestem o cenário.

Até os convites miseráveis das cadelas prenhas que se coçam não passam agora de meras brisas nómadas pelas ruelas. Brisas que servem apenas para secar a lagrima que se descuida pelo rosto.

Baixam-se os estores, fecham-se janelas e trancam-se portas ao mero toque da minha sombra passageira. . . Reflexo da minha ausente presença que desliza muda pela caminho.

Voa a ponta incandescente em cambalhotas decadentes que parece não ter fim.


…e a lua não limpa


Saio dos becos frios para uma avenida vazia. Os candeeiros intermitentes zumbem-me aos ouvidos como segredos demasiado baixos para serem perceptíveis, no entanto, sonoros de estática interferência.

Não olho para trás…apenas para baixo.

No cruzamento ergo a cabeça e encho o peito. Abraço o casaco que se revolta ao vento...


. . . e sigo para o calor da lareira que me espera…que apenas desejo ainda estar acesa.







By Moon_T

2 comentários:

Pearl disse...

Ao ler-te senti a chuva miudinha que torna tudo ainda mais pestilento!

...muito bom!

beijo

Anônimo disse...

O que mais me atrai a ti, não é a capacidade que tens de assimilar as imagens ao que escreves... sei que não é fácil, e por tantas vezes mal compreendidas. O que me cativa aqui neste teu mundo desconhecido, misterioso e sublime (assim te caracterizo!), é a sensibilidade com que fazes a escolha da melodia para as tuas letras.
Não te conheço, nem sei sequer o teu nome, mas sei que fazes uma entrega total de ti a este teu mundo, porque é tudo tão único, tão autêntico que parece quase surreal... é quase como visitar os recentos de Sintra. Quando entro, sinto-me perseguida... sinto o arrepio estranho, mas não olho para trás, sigo em frente... porque a única coisa que quero é ser LIVRE! ;))


Mil beijos.



P.S. Levo o som comigo.

Also...

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