
Cinco da manha e não conseguia dormir.
Sentia o corpo cansado, a cabeça pesada, os olhos quentes a arder, quase a lacrimejar mas nem lágrimas caíam.
Vesti a roupa que estava pendurada na porta do quarto, sem sequer ligar ao que era, calcei umas sapatilhas e desci até ao carro.
Sentia-me em câmara lenta embora descesse as escadas com alguma velocidade.
Acendo o cigarro e procuro nos bolsos as chaves do carro.
Abri a porta, sentei-me, abri o vidro e pus-me a conduzir sem destino.
Passei a cidade sonolenta como se nem eu lá estivesse… vazia.
Acabaram-se os candeeiros e só os faróis do carro iluminavam o caminho na ausência de um céu sem estrelas nem luar.
Nem sei se tinha o rádio ligado ou não, a única coisa que ouvia era o vento a entrar pela janela a bater-me violentamente na face.
Acabei por parar num qualquer tasco à borda da estrada onde estavam estacionados alguns camiões. Eles também a dormir.
Ao entrar, o cheiro a suor ressequido misturava-se com o das bifanas que estavam constantemente a ser cozinhadas.
Olhei em redor, vi as mesas de madeira ainda com migalhas e molhadas das cervejas entornadas.
Ao canto da sala, estavam umas quatro prostitutas que tinham acabado o seu serviço nocturno. Caras artificialmente alegres, gargalhadas sonoras e embriagadas como se ainda estivessem vestidas da farda do trabalho a que se predispõem.
Desprezei-as por completo.
Avancei até ao balcão.

O jovem funcionário olhou-me de alto a baixo como se soubesse que eu não fazia parte daquele quadro.
“Bom dia. O que é para o senhor?” -perguntou ele
“Jameson”- foi a única coisa que lhe respondi.
Enquanto esperava pelo meu copo, notei dois policias que estavam ao canto do balcão, à medida que comiam trocavam sussurros e olhares matreiros a olhar para as putas que ainda não se tinham calado, óbvios pensamentos sujos que segredavam entre eles.
Escapou-se-me um sorriso mudo de repreensão e abanei a cabeça em desaprovação.
Notaram a minha reacção e pararam por instantes com as piadinhas. Fixaram em mim o olhar como se metessem medo ou quisessem impor respeito.
“Coitados” pensei eu, “mal sabem de nada”.
Um casal que estava da outra ponta do balcão chamou-me a atenção.
O que pensava eu que era um casal, não passava de um cliente e de outra prostitua. Esta mais velha que o costume e demasiado embriagada para ser perceptível. Tão embriagada estava que mal começou a comer a sopa que tinha pedido, às custas do velho cliente, se levantou de mão na boca a regurgitar o pouco que fosse que tinha no estômago.
Já de copo na mão, olho para o lado e qual o meu espanto quando uma das que estava na mesa do canto se veio sentar ao meu lado. O cheiro a perfume barato enojava-me.
“Mas vim a um tasco ou a uma casa de putas ?”, pensei para mim mesmo.
Do nada, ela vira-se para mim e diz:
- Olá! Tudo bem?
Nem me dignei a responder, mostrando apenas um sorriso amarelo.

-Nós vamos fazer uma festinha. Quer vir?- perguntou ela com a maior naturalidade enquanto pousou a mão na minha perna.
-Uma festa?- perguntei eu
-Sim! Uma festa! Não quer vir?
Olhei bem para ela: pele morena, já queimada do tabaco. Pintura exagerada e já meio tirada. De vestes reduzidas com o decote bastante acentuado e mini-saia que mostrava umas longas pernas.
Ao notar que estava a olhar ela acrescentou enquanto deslizava com a mão para a minha braguilha:
-150 euros!
Ao que eu perguntei “150euros? Para que?”
- Para fazer-mos a festa claro! - retorquiu ela.
Respondi a olhar nos olhos:
- Eu não tinha levado dinheiro nenhum mas se, por todas, querem pagar 150euros eu não digo que não.
Levantou-se ofendida e foi ter com as colegas.
Os polícias continuaram a olhar sem perceberem o que se tinha passado.
Paguei, levantei-me e saí.
Enquanto me dirigia para a porta, elas olhavam de uma forma agressiva para mim como se me quisessem bater. Não resisti em gargalhar.
Putas…Fui para casa e dormi as duas horas que me restavam antes de ir trabalhar.
Voltarei lá noutro dia…

By Moon_T