Acordei com o som aflitivo do despertador que, cruel, às 7 da manha, decidiu por fim ao descanso merecido após uma longa noite de risos, de fantasias e desejo. Em reacção, premi o botão do silêncio impondo novamente a serenidade no quarto. Senti-lhe o braço envolver-me o peito e vi-a ainda a dormir pacificamente de sorriso nos lábios, como se sonhasse que era uma criança durante a entrega de prendas no natal. Perguntei-me várias vezes que sonho seria aquele que lhe desenhava um sorriso tão belo.
Sorrateiramente, esquivei-me dos seus braços, cuidadosamente para não a acordar e sentei-me à borda da cama como há muito não fazia. Um momento era o que precisava para começar um novo dia. Levantei-me cautelosamente para que os movimentos não fossem demasiado bruscos de forma a não causar balanço algum. Não queria perturbar tal sono pacífico que residia mesmo ali ao lado.
Ao passar as mãos pela cara, num gesto comum de tentar despertar, notei que ainda era intenso o cheiro dela e sorri. Num curto instante relembrei imagens que me ficaram e ficarão, para sempre, gravadas na memória. Imagens com sabor a chocolate… e sorri. Virei-me para a cama, só para me certificar se ainda lá estava deitada ou não estaria eu ainda a dormir. Foi então que me deparei com um retrato divino:
Seu corpo estava deitado sobre a cama, parcialmente tapado pelos lençóis. Mas não era de qualquer forma, não. Raios de luz atravessavam o quarto com o único objectivo de lhe banhar o corpo e de lhe aquecer a pele húmida da noite que passou.
Parecia que os lençóis tinham sido meticulosamente colocados de forma a que se notassem na perfeição as curvas daquele tão lindo e pálido corpo.
Uma perna estendida coberta pelo lençol e a outra ligeiramente flectida de forma que, naturalmente, as nádegas se avultassem.
As suas costas nuas tomavam contornos hipnóticos que, em simultâneo com os raios de luz da madrugada, gritavam o meu nome. Os seus cabelos pareciam penteados profissionalmente para o lado direito, expondo na perfeição as curvas do pescoço que, poeticamente, traçavam sombras dignas de uma exposição completa de fotografia a preto e branco.
Parei somente pelo tempo de um longo suspiro, que foi o suficiente para prender aquele retrato na minha eternidade. Não resisti em beija-la, mesmo correndo o risco de a acordar… foi mais forte que eu. Tive demasiados ciúmes da luz que lhe acariciava o corpo em vez das minhas mãos. Suavemente, debrucei-me sobre ela. O seu odor entrou-me pelas narinas, invadiu-me a mente e violou-me a alma. Sucumbi à tentação e encostei os meus lábios aos dela.
Como serpentes, seus braços envolveram o meu corpo e senti-me puxado para baixo. Quase sem dar conta, os seus seios colaram-se ao meu peito e encaixámos na perfeição. Naquele momento, o quarto parecia um puzzle e os nossos corpos a ultimas peças que faltavam para que a imagem dispersa se completasse. Completámo-nos. O mundo parou ali.
“Não vás.”, ouvi em segredo. Mas tinha de ir…
Como dois imans, os corpos custaram a separar-se. O suor pegou-nos. Custou demais…
Dirigi-me para a casa de banho, cabisbaixo, abri a torneira da água fria e lavei o rosto. Olhei-me ao espelho ferrugento pendurado na parede mesmo à minha frente e vi a cara alegre de uma alma que chorava pela dor da despedida. Rapidamente fiz o meu ritual diário e quando regressei ao quarto um só batimento cardíaco forte se deu… estava vazio!
Em pânico percorri toda a casa mas nada, ninguém. Abanquei-me aos pés da cama para tentar decifrar o que se tinha sucedido, olhei em redor e quando passei os olhos pelo despertador reparei nas horas: 04am.
Afinal o que foi que se passou?
By Moon_T