Encurtam os dias e as noites prolongam-se pelas vielas.
O assobio dos ventos dobra as esquinas e bate nas janelas.
Abraça-se a ventania aos casacos que abanam as caudas no álgido rasto da passagem.
Passam nos rostos cabisbaixos de lábios estalados, monólogos perdidos nas fímbrias da trivialidade.
Contam-se histórias nos cabelos molhados que brilham na escuridão que veste as ruas.
Mudam as estações…
As janelas gastas pelo tempo separam os ecos vagabundos que se perdem nas sombras passageiras das nuvens.
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Despem-se as árvores dos jardins vermelhos enquanto se vestem as estrelas num imenso véu de prata, avivando o reflexo dos charcos que cobrem os passeios.
Tudo se vê desta torre de betão.
Vêem-se as danças dos guarda-chuvas, os espasmos das poças no caminho. Os movimentos banais das figuras absortas nas suas próprias vidas. Notam-se os arrepios na pele causados pelo rugido longínquo do relâmpago arrastado pela brisa gelada.
Mudam as estações…
Cá dentro, acendem-se as velas que troçam as investidas dos loucos lá fora.
Guarda-se incólume a própria demência…
Escorrem as gotas que se agarram aos vidros e invejam a manifestação da verve e paixão que se dá no aninhar dos corpos.
Embrulham-se os corpos em mantas de pelo.
Amornam os pés húmidos contra a pele.
Acende-se a lareira no olhar.
Aquece o beijo nos lábios.
Mudam as estações…
By Moon_T
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