Custou-me quando saí de casa. Custou-me mais ainda quando, saído de casa, o soube doente. Morri mais um pouco quando o quis ver, e por muros e barreiras intransponíveis, levantados pela dor infantil de adultos, não lhe consegui tocar. Nunca mais. Nunca pensei que fosse algo demasiado grave, pois todos sabiam o quanto o gostava e nunca me esconderiam algo relevante. Errado.
Liguei para lhe ouvir a voz. Para falar. Para saber dele. Para ele saber de mim. Sempre quis saber. E sempre nada. Sempre me lembro dele e sempre gosto dele.
Lembro-me de o ver com o mais novo a brincar. Inseparáveis, os rufias. O mais novo, com os dentes tortos desde sempre, com as brincadeiras ruins, a aleijá-lo, e ele nada. Pacifico. Que rufias, os dois.
No natal o telefone tocou. Era grave afinal. Estava doente, dizia ela a chorar. Era grave e nada me disse. E morreu. Morreu. Quis ofendê-la. Queria lhe bater. Não me disse. Não me deixou vê-lo. Nem uma última vez me deixou vê-lo. Nem para me despedir. Nem me despedi. Não o vi pela última vez. Morreu. Morreu e nem o vi pela última vez.
Lembro-me de ti, filho. Não me esqueço. Quero a minha última vez.
Não me esqueço.
Moon_T
Nenhum comentário:
Postar um comentário