Shiu. . . Não digas nada.
toca-me apenas com os teus lábios e mata-me o silêncio.
ouvi-te segredares-me ao ouvido amo-te
e acordei.
Eu sou o anjo do desespero.
Das minhas mãos distribuo a embriaguês,
a estupefacção,
o esquecimento, gozo e tormento dos corpos.
Meu discurso é o silêncio, meu canto o grito.
À sombra das minhas asas mora o terror.
Minha esperança é o último suspiro.
Minha esperança é a primeira batalha.
Eu sou a faca com que o morto arromba o seu caixão.
Eu sou aquele que será.
Meu descolar é a sublevação,
meu céu o abismo de amanhã.
[Heiner Müller]